domingo, 28 de outubro de 2012

ANÁLISE DA OBRA: A CORRIDA PARA O SÉCULO XXI: NO LOOP DA MONTANHA RUSSA.

SEVCENKO, Nicolau. A Corrida para o Século XXI: no Loop da Montanha Russa. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.

Nicolau Sevcenko, historiador e escritor, filho de imigrantes russos, Sevcenko nasceu no Brasil no Estado de São Paulo em 1952, graduou-se em 1976, na universidade de São Paulo, onde é professor titular desde 1999. Escreveu diversas obras entre elas estão À revolta da vacina, Orfeu extático na metrópole: São Paulo nos frementes anos 20 (1992), A corrida para o século XXI: No loop da montanha-russa (2001) e Literatura como missão: Tensões sociais e criação cultural na Primeira República (2003), além de ter organizado o volume História da vida privada no Brasil: da belle époque à era do rádio (1998), todos pela Editora Companhia das Letras.
 Neste trabalho o autor inicia a introdução do texto utilizando metáforas, comparando as sensações provocadas pelo avanço acelerado Científico-Tecnológico do século XX, às sensações que o “loop” de uma montanha russa provoca no ser humano. 
 No subtítulo “A corrida do século XX” nos apresenta algumas tendências mais marcantes do nosso tempo: a partir do “século XVI, a situação privilegiada da Elite da Europa Ocidental onde os desenvolvimentos tecnológicos lhe asseguraram o domínio de poderosas forças naturais, de fonte de energias cada vez mais potentes, de novos meios de transportes e comunicação, de armamento e conhecimento especializados. Permitindo-lhes impor uma hegemonia apoiada na ideia de uma vocação inata da civilização europeia para o saber, o poder e a acumulação de riquezas” (p14-15). No século XX essa visão otimista continua sob a expressão “ordem e progresso”; A Revolução Científico-Tecnológica atingiu todos os segmentos do conhecimento humano com impacto transformador em todas as sociedades e atingiu seu ponto mais alto na eclosão da “Grande Guerra, graças aos novos recursos tecnológicos, produziu-se o efeito de destruição em massa, nunca tantos morreram tão rápido, tão atrozmente em tão pouco tempo. Essa escala só seria superada com o seu desdobramento histórico, a Segunda Guerra Mundial” (p16). O Autor nos apresenta também a magnitude das mudanças atuais a partir da Revolução da Microeletrônica, que apesar de tantos benefícios o levou a refletir sobre os problemas que o ritmo acelerado dessas mudanças ocasionou, como por exemplo, a falta de reflexão crítica da sociedade sobre todo esse movimento e seus prejuízos.
 O autor nos leva ao conhecimento de que a crítica social tem poder diante dos rumos que a evolução tecnológica esta conduzindo toda a sociedade, não podemos evitar esse constante e crescente desenvolvimento, mas não podemos ser alheios a eles e se não ficarmos atento, a nossa capacidade de critica será abafada diante de tantos acontecimentos efêmeros e encantadores. “A técnica não pode abolir a crítica, até mesmo porque precisa dela para abrir a cortina de novos horizontes” (p.17) À sociedade precisa participar criticamente diante das evoluções e inovações, avaliar seus efeitos e seus impactos. O autor traz sugestões de orientações ao desenvolvimento crítico levando em consideração nosso momento tumultuoso que sufoca a reflexão e diálogo, que consiste em se desprender do ritmo acelerado das mudanças atuais, e com olhar um pouco mais distante analisar criticamente; analisar a sociedade conforme o seu tempo histórico e as transformações do seu contexto e analisar as transformações sociais futuras e de como a técnica pode ser posta a favor dos valores humanos beneficiando o maior numero de pessoas.
CAP.1: Aceleração tecnológica, mudanças econômicas e desequilíbriosA Segunda Guerra foi um marco divisor, pois após esse período nos deparamos com a Guerra Fria, um conflito ideológico protagonizado pelas duas ideologias predominantes. 
 E para finalizar está parte, o autor nos diz um pouquinho que a maior sofisticação dos equipamentos foram criados durante a guerra fria, ocasionado pela corrida armamentista, com o fim da guerra os Estados Unidos se tornam a economia mais forte do planeta em que o dólar americano se torna moeda padrão internacional e por fim menciona o enorme crescimento do PIB americano.
 “Nos anos 70 com a era da globalização, em meios às turbulências causadas pela crise do petróleo, uma serie de medidas foram tomadas pelos EUA para dar maior dinamismo ao mercado internacional, entre elas a liberalização de controles cambiais entre as economias mais desenvolvidas, a desregulamentação dos mercados e o surgimento de empresa transnacional, beneficiando grandiosamente os capitais financeiros. Neste contexto houve grandes mudanças drásticas em todo o quadro da economia mundial”(p27-28). Outro fator que beneficiou as grandes potências econômicas desse período foram as grandes conquistas das evoluções das novas tecnologias da microeletrônica “cada fração de segundo em que uma informação nova possa ser traduzida pelo simples toque de uma tecla eletrônica transfere volumes fabulosos de recursos de uma parte do mundo para outra e de milhares de fontes para as contas de um pequeno punhado de agentes privilegiados” (p-29), isso nos mostra o quanto são pequenos os setores da sociedade privilegiados, se beneficiam cada vez mais, com cada passo da evolução tecnológica, mesmo se falando em globalização, onde a perspectiva deveria ser de “um mundo só”, a exclusão de uma maioria permanece, e essa minoria ainda exerce um poder de domínio e decisões sobre as outras.
 No subtítulo “A desmontagem do Estado de bem estar social” é muito interessante o autor nos mostrar que devido as grandes mudanças baseadas na evolução tecnológica, de grande impacto, de grandes proporções e aceleração desenfreada, não houve uma politica ética de fiscalização, debate ou avaliação que acompanhasse esse dinamismo, e o resultado “desse processo foi que grandes corporações ganharam um poder de ação que tendem a prevalecer sobre os sistemas políticos, os parlamentos, os tribunais e a opinião pública” (p-30), o Estado perde seu poder controlador sobre o sistema de taxação sobre essas corporações, comprometendo o exercício do seu papel de proteção social. Com a globalização, facilita o poder de mobilização das grandes empresas, que ameaçam o Estado de evasão caso não seja atendido seus interesses e exclusividade de benefícios, assim o Estado a fim de evitar o colapso administrativo, se vê obrigado a agir contra a sociedade em favor dessas grandes corporações.  “A tradução prática dessa receita é o aumento da marginalidade, da violência, o declínio do espaço público e da convivência democrática” (p32). Porém essa transformação drástica acontecendo mesmo sem um debate parlamentar, não ocorreu sem a legitimidade de um discurso político, uma grande mudança impactou os quadros de valores e deu vida nova a posições típicas do liberalismo conservador, consolidando a ideologia do neoliberalismo, liderados e disseminados principalmente pelos governos do EUA e Inglaterra, justificado na ideologia de um novo mundo na versão WASP.
Encabeçado a partir da década 70 por duas figuras essenciais para a elaboração desse modelo econômico, Ronald Reagan e Margaret Thatcher ou “dama de ferro”, esse modelo pregava a pura competição e individualidade onde o Estado é capaz de fornecer os meios essenciais para a classe trabalhadora mais abastada, mas eu pergunto de que maneira são fornecidos esses serviços, é por meio do sucateamento, onde quem tem dinheiro para pagar essas mercadorias terá obviamente uma qualidade de vida muito melhor do que aquele trabalhador que depende dos serviços prestados pelo Estado, isso novamente gera injustiça, individualismo, competitividade, desigualdade social, mortalidade infantil, miséria e instabilidade financeira. Com o advento do discurso neoliberal, o debate político que defendiam as metas de consolidação de um conjunto de ações que era a vigor de uma sociedade democrática e o aperfeiçoamento do Estado de bem estar social, se transformaram em função do “pensamento único”, onde o Estado se anula e se rende em favor da liberdade de comércio das grandes corporações.
 O discurso do autor no subtítulo O Presentismo e o Imperativo da Responsabilidade abordam assuntos sobre os aspectos negativos ocultados da revolução científico-tecnológica, e da consolidação do neoliberalismo, presente na disparidade da desigualdade social e distribuição de renda entre os países mais ricos e os mais pobres. Fala dessa crítica da desigualdade social como um legado mais perverso do séc. XX para o séc. XXI. Dados da ONU mostram que existe uma minoria de duzentos multimilionários e a renda do restante da população somada representa apenas dez por cento da renda desse grupo, “constatações desse teor colocam em evidência que o problema mais urgente dos tempos atuais é o da responsabilidade em relação ao futuro, que esta sendo configurado por forças fora de qualquer controle institucional” (p-43). Neste mesmo subtítulo o autor faz uma reflexão sobre Ética e o desenvolvimento tecnológico, cita o estudo do filósofo Hans Jonas, que mostra que este termo quando formulado nos primórdios da filosofia ocidental e “com predomínio nesta fase, de condições tradicionais e de um padrão de baixo potencial tecnológico, não se colocava a questão do impacto futuro que viessem a ter as decisões tomadas aqui e agora” (p-44), ”Pode-se dizer, portanto que durante o período que antecedeu a era tecnológica, a ética era pensada numa base de relações de indivíduo para indivíduo, completamente centrada numa perspectiva humana, tudo mais relacionado ao mundo externo era estranho ao mundo moral” (p-44). O autor justifica esse pensamento no fato de que as “sociedades modernas tem um potencial transformador que se multiplica tão rápido, numa velocidade maior do que a necessária para que se possam compreender ou refletir sobre seus impactos futuros” (p-45). As consequências desse presentismo são os efeitos abaladores e desestabilizadores que irão impactar de forma drástica o futuro de indivíduos que se quer participaram das decisões iniciais, causando desequilíbrios das mais diversas formas, sejam nos setores políticos, tecnológicos, empresariais, ambientais ou sociais. Segundo Hans Jonas, esse processo caracteriza o mal do “presentismo”, ou seja, assumir decisões que envolvem grandes riscos no presente, sem considerar suas consequências e vítimas futuras. Dois dos fatores apresentados pelo autor que fortalece a mentalidade do presentismo foram à publicidade e o consumismo, fortalecido pela desregulamentação dos mercados, seduzindo a sociedade com apelos sensuais e sensoriais associados a fantasias que envolvem desejos de poder, estimulando a ideia de quem pode mais terá mais e do melhor, quem não tem o poder de compra será expulso para margens ou para fora do sistema. Esse tipo de atitude presentista ainda atinge outros segmentos da sociedade moderna, impondo o pensamento de que aqueles que estão de fora desse sistema consumista irão representar a imagem do fracasso, e ainda atribuindo a essa camada da sociedade a culpa pela sua falta de iniciativa, não adaptação à vida moderna e má sorte. “Esse tipo de atitude presentista possui um aspecto que consiste em fazer uma tábua rasa das circunstâncias históricas que conduziram a ordem mundial ao ponto em que agora se encontra” (p-49), isso mostra um pensamento que faz sempre do momento atual o inicio de uma nova fase, ignorando as circunstâncias históricas que envolvem a sociedade e justificam seu modo de vida. “O fato é que podemos estar no início de uma nova etapa da configuração tecnológica, mas o mundo certamente não começou agora” (p-49).
 No subtítulo “o retorno do colonialismo: a desigualdade se aprofunda” o autor traz comparações do sistema colonial antigo à dependência econômica dos países mais pobres pós-independência e alguns fatores que justificam sua continuidade através do neocolonialismo doutrinado pelos países imperialistas do século XIX, como por exemplo, o fato das nações emancipadas adotarem o modelo de organização política de suas metrópoles, recorrendo a elas contando com apoio e colaboração militar, explorando sua população tal qual eram feitas no sistema anterior. As consequências são: a exploração econômica e a expropriação predatória de recursos naturais.
 “O FMI, o BM e o Terceiro Mundo”: Neste subtítulo o autor fala das duas instituições pelo o qual o neoliberalismo impõe aos países do Terceiro Mundo uma submissão incondicional ao neocolonialismo, sendo eles o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial, ambos criados em 1944 com a dupla finalidade de financiar a reconstrução dos países arrasados pela guerra e apoiar as nações em processo de desenvolvimento ou recém-emancipadas da condição colonial. “Para alguns países capitalistas europeus e para o Japão essas medidas foram de grande ajuda, porém para os demais países esse apoio foi se tornando uma ladeira sem fim, afundando-os cada vez mais em níveis sufocantes de endividamentos” (p-52). Essas medidas de apoio eram acompanhadas com um receituário com 115 condições de reajuste estrutural dos países subdesenvolvidos, todos eles favorecendo a exploração dos países de economia dominante, “impunham medidas como a desregulamentação das economias e finanças, derrubada de barreiras alfandegárias e comerciais, redução de gastos públicos e serviços sociais, privatização de empresas e eliminação de garantias de direitos trabalhistas, inclusive com enfraquecimento dos sindicatos, de modo a permitir demissões em massa e tornar o mercado de mão de obra, mais barato, mais dócil e mais flexível “(p-53)”. O custo desse apoio para os países de Terceiro Mundo, além do endividamento em longo prazo, foi o aumento drástico da desigualdade social, falta de investimento público em todos os setores sociais, desemprego, baixos salários, aumento da mortalidade por doenças e desnutrição, tornando essas nações cada vez mais pobres e dependentes.
 “Crítica, luta humanitária e ação em escala global”: O mais interessante deste subtítulo é o modo otimista, de como o autor se comunica com o leitor e coloca que é possível enfrentar esse quadro de graves desequilíbrios, com a visão de um historiador que se vê com uma grande vantagem que “consiste justamente na possibilidade que o estudo de história propicia, de uma compreensão mais articulada das circunstâncias por meio das quais chegamos ao ponto em que estamos e, partir daí, na possibilidade de uma melhor avaliação das alternativas que se apresentam e podemos vislumbrar graças à ampliação da perspectiva temporal. Essa estratégia nos permite sair dos limites estreitos tanto do presentismo como do conformismo do pensamento único apresenta algumas alternativas” (p-55). Resumindo, suas propostas sugerem compreender a impossibilidade de retornar e modificar o passado, as mudanças históricas ou tecnológicas uma vez desencadeadas, exige que nossos pensamentos se reformulem em adequação aos novos termos para poder interagir com eficácia no novo contexto; com isso a sugestão é que os Estados nacionais busquem uma nova capacidade reguladora de âmbito mundial, compatível com o âmbito global em que agem atualmente as grandes corporações. Ao lado dessa reformulação dos Estados, seria necessário que a sociedade, as associações civis e associações não governamentais atuassem também em coordenação internacional exercendo grandes pressões como consumidores, já que essa é agora a força dominante para que essas empresas sejam transparentes quanto as suas políticas trabalhistas, suas responsabilidades sociais, culturais e ecológicas, sob penas de boicote em escala global.  A partir dos anos 90, a pressão da manifestação social contra a exploração econômica e expropriação predatória de recursos naturais, teve como resultado “algumas proposições novas e bastante promissoras assinadas pela ONU, incluindo aos direitos humanos, os direitos sociais, econômicos e culturais, esse principio ético-juridico comporta amplas e notáveis consequências, implicando que os responsáveis pelas violações aos direitos humanos, sejam autoridades locais, grupos econômicos ou instâncias internacionais serão passiveis de julgamento em tribunais internacionais por crime, representando uma conquista inovadora e radical” (p56-57).
CONCLUSÃO: Atuar contra os desequilíbrios causados pelo avanço tecnológico acelerado e as mudanças econômicas decorrentes são uma missão que requer a conscientização da sociedade de que é possível melhorar esse quadro das desigualdades, através de uma luta contínua em busca de um nivelamento mais equilibrado nas relações entre as potências capitalistas e os países do terceiro mundo; acredito que nossas principais armas estão no conhecimento e na compreensão dos prejuízos causados á sociedade, investimento acadêmico para que outras sugestões e possibilidades viáveis de transformações possam se divulgadas, a utilização dos meios educacionais como fonte de informações e conhecimento dos planos políticos de futuros governantes que iremos eleger.

Um comentário:

  1. Uma dica para um próximo artigo é mudar a cor da letra. Em vermelho fica péssimo para leitura. Chega a dor a visão.

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