SEVCENKO, Nicolau. A Corrida para o Século
XXI: no Loop da Montanha Russa. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
Nicolau Sevcenko,
historiador e escritor, filho de imigrantes russos, Sevcenko nasceu no Brasil
no Estado de São Paulo em 1952, graduou-se em 1976, na universidade de São
Paulo, onde é professor titular desde 1999. Escreveu diversas obras entre elas
estão À revolta
da vacina, Orfeu extático na
metrópole: São Paulo nos frementes anos 20 (1992), A corrida para o século XXI: No loop da montanha-russa (2001) e Literatura como missão: Tensões sociais e
criação cultural na Primeira República (2003), além de ter organizado o volume História
da vida privada no Brasil: da belle époque à era do rádio (1998), todos pela Editora Companhia
das Letras.
Neste trabalho o autor inicia a introdução do
texto utilizando metáforas, comparando as sensações provocadas pelo avanço
acelerado Científico-Tecnológico do século XX, às sensações que o “loop” de uma
montanha russa provoca no ser humano.
No subtítulo “A corrida do século XX” nos apresenta algumas tendências
mais marcantes do nosso tempo: a partir do “século XVI, a situação privilegiada
da Elite da Europa Ocidental onde os desenvolvimentos tecnológicos lhe
asseguraram o domínio de poderosas forças naturais, de fonte de energias cada
vez mais potentes, de novos meios de transportes e comunicação, de armamento e
conhecimento especializados. Permitindo-lhes impor uma hegemonia apoiada na
ideia de uma vocação inata da civilização europeia para o saber, o poder e a
acumulação de riquezas” (p14-15). No século XX essa visão otimista continua sob
a expressão “ordem e progresso”; A Revolução Científico-Tecnológica atingiu
todos os segmentos do conhecimento humano com impacto transformador em todas as
sociedades e atingiu seu ponto mais alto na eclosão da “Grande Guerra, graças aos
novos recursos tecnológicos, produziu-se o efeito de destruição em massa, nunca
tantos morreram tão rápido, tão atrozmente em tão pouco tempo. Essa escala só
seria superada com o seu desdobramento histórico, a Segunda Guerra Mundial” (p16).
O Autor nos apresenta também a magnitude das mudanças atuais a partir da
Revolução da Microeletrônica, que apesar de tantos benefícios o levou a
refletir sobre os problemas que o ritmo acelerado dessas mudanças ocasionou,
como por exemplo, a falta de reflexão crítica da sociedade sobre todo esse
movimento e seus prejuízos.
O autor nos leva ao conhecimento de que a
crítica social tem poder diante dos rumos que a evolução tecnológica esta
conduzindo toda a sociedade, não podemos evitar esse constante e crescente
desenvolvimento, mas não podemos ser alheios a eles e se não ficarmos atento, a
nossa capacidade de critica será abafada diante de tantos acontecimentos
efêmeros e encantadores. “A técnica não pode abolir a crítica, até mesmo porque
precisa dela para abrir a cortina de novos horizontes” (p.17) À sociedade
precisa participar criticamente diante das evoluções e inovações, avaliar seus
efeitos e seus impactos. O autor traz sugestões de orientações ao
desenvolvimento crítico levando em consideração nosso momento tumultuoso que
sufoca a reflexão e diálogo, que consiste em se desprender do ritmo acelerado
das mudanças atuais, e com olhar um pouco mais distante analisar criticamente;
analisar a sociedade conforme o seu tempo histórico e as transformações do seu
contexto e analisar as transformações sociais futuras e de como a técnica pode
ser posta a favor dos valores humanos beneficiando o maior numero de pessoas.
CAP.1: Aceleração
tecnológica, mudanças econômicas e desequilíbriosA Segunda Guerra foi um
marco divisor, pois após esse período nos deparamos com a Guerra Fria, um
conflito ideológico protagonizado pelas duas ideologias predominantes.
E para finalizar está parte, o
autor nos diz um pouquinho que a maior sofisticação dos equipamentos foram
criados durante a guerra fria, ocasionado pela corrida armamentista, com o fim
da guerra os Estados Unidos se tornam a economia mais forte do planeta em que o
dólar americano se torna moeda padrão internacional e por fim menciona o enorme
crescimento do PIB americano.
“Nos anos 70 com a era da globalização, em
meios às turbulências causadas pela crise do petróleo, uma serie de medidas
foram tomadas pelos EUA para dar maior dinamismo ao mercado internacional,
entre elas a liberalização de controles cambiais entre as economias mais desenvolvidas,
a desregulamentação dos mercados e o surgimento de empresa transnacional,
beneficiando grandiosamente os capitais financeiros. Neste contexto houve
grandes mudanças drásticas em todo o quadro da economia mundial”(p27-28). Outro
fator que beneficiou as grandes potências econômicas desse período foram as
grandes conquistas das evoluções das novas tecnologias da microeletrônica “cada
fração de segundo em que uma informação nova possa ser traduzida pelo simples
toque de uma tecla eletrônica transfere volumes fabulosos de recursos de uma
parte do mundo para outra e de milhares de fontes para as contas de um pequeno punhado
de agentes privilegiados” (p-29), isso nos mostra o quanto são pequenos os
setores da sociedade privilegiados, se beneficiam cada vez mais, com cada passo
da evolução tecnológica, mesmo se falando em globalização, onde a perspectiva
deveria ser de “um mundo só”, a exclusão de uma maioria permanece, e essa
minoria ainda exerce um poder de domínio e decisões sobre as outras.
No subtítulo “A desmontagem do Estado de bem estar social” é muito
interessante o autor nos mostrar que devido as grandes mudanças baseadas na
evolução tecnológica, de grande impacto, de grandes proporções e aceleração
desenfreada, não houve uma politica ética de fiscalização, debate ou avaliação
que acompanhasse esse dinamismo, e o resultado “desse processo foi que grandes
corporações ganharam um poder de ação que tendem a prevalecer sobre os sistemas
políticos, os parlamentos, os tribunais e a opinião pública” (p-30), o Estado
perde seu poder controlador sobre o sistema de taxação sobre essas corporações,
comprometendo o exercício do seu papel de proteção social. Com a globalização,
facilita o poder de mobilização das grandes empresas, que ameaçam o Estado de
evasão caso não seja atendido seus interesses e exclusividade de benefícios,
assim o Estado a fim de evitar o colapso administrativo, se vê obrigado a agir
contra a sociedade em favor dessas grandes corporações. “A tradução prática dessa receita é o aumento
da marginalidade, da violência, o declínio do espaço público e da convivência
democrática” (p32). Porém essa transformação drástica acontecendo mesmo sem um
debate parlamentar, não ocorreu sem a legitimidade de um discurso político, uma
grande mudança impactou os quadros de valores e deu vida nova a posições
típicas do liberalismo conservador, consolidando a ideologia do neoliberalismo,
liderados e disseminados principalmente pelos governos do EUA e Inglaterra,
justificado na ideologia de um novo mundo na versão WASP.
Encabeçado a partir da década 70 por duas figuras essenciais para a
elaboração desse modelo econômico, Ronald Reagan e Margaret Thatcher ou “dama
de ferro”, esse modelo pregava a pura competição e individualidade onde o
Estado é capaz de fornecer os meios essenciais para a classe trabalhadora mais
abastada, mas eu pergunto de que maneira são fornecidos esses serviços, é por
meio do sucateamento, onde quem tem dinheiro para pagar essas mercadorias terá
obviamente uma qualidade de vida muito melhor do que aquele trabalhador que
depende dos serviços prestados pelo Estado, isso novamente gera injustiça,
individualismo, competitividade, desigualdade social, mortalidade infantil,
miséria e instabilidade financeira.
Com
o advento do discurso neoliberal, o debate político que defendiam as metas de
consolidação de um conjunto de ações que era a vigor de uma sociedade
democrática e o aperfeiçoamento do Estado de bem estar social, se transformaram
em função do “pensamento único”, onde o Estado se anula e se rende em favor da
liberdade de comércio das grandes corporações.
O discurso do autor no subtítulo O Presentismo e o Imperativo da
Responsabilidade abordam assuntos sobre os aspectos negativos ocultados da
revolução científico-tecnológica, e da consolidação do neoliberalismo, presente
na disparidade da desigualdade social e distribuição de renda entre os países
mais ricos e os mais pobres. Fala dessa crítica da desigualdade social como um
legado mais perverso do séc. XX para o séc. XXI. Dados da ONU mostram que existe
uma minoria de duzentos multimilionários e a renda do restante da população
somada representa apenas dez por cento da renda desse grupo, “constatações
desse teor colocam em evidência que o problema mais urgente dos tempos atuais é
o da responsabilidade em relação ao futuro, que esta sendo configurado por
forças fora de qualquer controle institucional” (p-43). Neste mesmo subtítulo o
autor faz uma reflexão sobre Ética e o desenvolvimento tecnológico, cita o
estudo do filósofo Hans Jonas, que mostra que este termo quando formulado nos
primórdios da filosofia ocidental e “com predomínio nesta fase, de condições
tradicionais e de um padrão de baixo potencial tecnológico, não se colocava a questão
do impacto futuro que viessem a ter as decisões tomadas aqui e agora” (p-44), ”Pode-se
dizer, portanto que durante o período que antecedeu a era tecnológica, a ética
era pensada numa base de relações de indivíduo para indivíduo, completamente
centrada numa perspectiva humana, tudo mais relacionado ao mundo externo era
estranho ao mundo moral” (p-44). O autor justifica esse pensamento no fato de
que as “sociedades modernas tem um potencial transformador que se multiplica
tão rápido, numa velocidade maior do que a necessária para que se possam
compreender ou refletir sobre seus impactos futuros” (p-45). As consequências desse
presentismo são os efeitos abaladores e desestabilizadores que irão impactar de
forma drástica o futuro de indivíduos que se quer participaram das decisões
iniciais, causando desequilíbrios das mais diversas formas, sejam nos setores
políticos, tecnológicos, empresariais, ambientais ou sociais. Segundo Hans
Jonas, esse processo caracteriza o mal do “presentismo”, ou seja, assumir
decisões que envolvem grandes riscos no presente, sem considerar suas
consequências e vítimas futuras. Dois dos fatores apresentados pelo autor que
fortalece a mentalidade do presentismo foram à publicidade e o consumismo,
fortalecido pela desregulamentação dos mercados, seduzindo a sociedade com
apelos sensuais e sensoriais associados a fantasias que envolvem desejos de
poder, estimulando a ideia de quem pode mais terá mais e do melhor, quem não
tem o poder de compra será expulso para margens ou para fora do sistema. Esse
tipo de atitude presentista ainda atinge outros segmentos da sociedade moderna,
impondo o pensamento de que aqueles que estão de fora desse sistema consumista
irão representar a imagem do fracasso, e ainda atribuindo a essa camada da
sociedade a culpa pela sua falta de iniciativa, não adaptação à vida moderna e
má sorte. “Esse tipo de atitude presentista possui um aspecto que consiste em
fazer uma tábua rasa das circunstâncias históricas que conduziram a ordem
mundial ao ponto em que agora se encontra” (p-49), isso mostra um pensamento que
faz sempre do momento atual o inicio de uma nova fase, ignorando as
circunstâncias históricas que envolvem a sociedade e justificam seu modo de
vida. “O fato é que podemos estar no início de uma nova etapa da configuração
tecnológica, mas o mundo certamente não começou agora” (p-49).
No subtítulo “o retorno do colonialismo: a desigualdade se aprofunda” o autor
traz comparações do sistema colonial antigo à dependência econômica dos países
mais pobres pós-independência e alguns fatores que justificam sua continuidade
através do neocolonialismo doutrinado pelos países imperialistas do século XIX,
como por exemplo, o fato das nações emancipadas adotarem o modelo de
organização política de suas metrópoles, recorrendo a elas contando com apoio e
colaboração militar, explorando sua população tal qual eram feitas no sistema
anterior. As consequências são: a exploração econômica e a expropriação
predatória de recursos naturais.
“O FMI, o BM e o Terceiro Mundo”:
Neste subtítulo o autor fala das duas instituições pelo o qual o neoliberalismo
impõe aos países do Terceiro Mundo uma submissão incondicional ao
neocolonialismo, sendo eles o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial,
ambos criados em 1944 com a dupla finalidade de financiar a reconstrução dos
países arrasados pela guerra e apoiar as nações em processo de desenvolvimento
ou recém-emancipadas da condição colonial. “Para alguns países capitalistas
europeus e para o Japão essas medidas foram de grande ajuda, porém para os
demais países esse apoio foi se tornando uma ladeira sem fim, afundando-os cada
vez mais em níveis sufocantes de endividamentos” (p-52). Essas medidas de apoio
eram acompanhadas com um receituário com 115 condições de reajuste estrutural
dos países subdesenvolvidos, todos eles favorecendo a exploração dos países de
economia dominante, “impunham medidas como a desregulamentação das economias e
finanças, derrubada de barreiras alfandegárias e comerciais, redução de gastos
públicos e serviços sociais, privatização de empresas e eliminação de garantias
de direitos trabalhistas, inclusive com enfraquecimento dos sindicatos, de modo
a permitir demissões em massa e tornar o mercado de mão de obra, mais barato, mais
dócil e mais flexível “(p-53)”. O custo desse apoio para os países de Terceiro Mundo,
além do endividamento em longo prazo, foi o aumento drástico da desigualdade social,
falta de investimento público em todos os setores sociais, desemprego, baixos
salários, aumento da mortalidade por doenças e desnutrição, tornando essas
nações cada vez mais pobres e dependentes.
“Crítica,
luta humanitária e ação em escala global”: O mais interessante deste
subtítulo é o modo otimista, de como o autor se comunica com o leitor e coloca
que é possível enfrentar esse quadro de graves desequilíbrios, com a visão de
um historiador que se vê com uma grande vantagem que “consiste justamente na
possibilidade que o estudo de história propicia, de uma compreensão mais
articulada das circunstâncias por meio das quais chegamos ao ponto em que
estamos e, partir daí, na possibilidade de uma melhor avaliação das alternativas
que se apresentam e podemos vislumbrar graças à ampliação da perspectiva
temporal. Essa estratégia nos permite sair dos limites estreitos tanto do
presentismo como do conformismo do pensamento único apresenta algumas
alternativas” (p-55). Resumindo, suas propostas sugerem compreender a
impossibilidade de retornar e modificar o passado, as mudanças históricas ou
tecnológicas uma vez desencadeadas, exige que nossos pensamentos se reformulem
em adequação aos novos termos para poder interagir com eficácia no novo
contexto; com isso a sugestão é que os Estados nacionais busquem uma nova
capacidade reguladora de âmbito mundial, compatível com o âmbito global em que
agem atualmente as grandes corporações. Ao lado dessa reformulação dos Estados,
seria necessário que a sociedade, as associações civis e associações não
governamentais atuassem também em coordenação internacional exercendo grandes
pressões como consumidores, já que essa é agora a força dominante para que
essas empresas sejam transparentes quanto as suas políticas trabalhistas, suas
responsabilidades sociais, culturais e ecológicas, sob penas de boicote em
escala global. A partir dos anos 90, a
pressão da manifestação social contra a exploração econômica e expropriação
predatória de recursos naturais, teve como resultado “algumas proposições novas
e bastante promissoras assinadas pela ONU, incluindo aos direitos humanos, os
direitos sociais, econômicos e culturais, esse principio ético-juridico
comporta amplas e notáveis consequências, implicando que os responsáveis pelas
violações aos direitos humanos, sejam autoridades locais, grupos econômicos ou instâncias
internacionais serão passiveis de julgamento em tribunais internacionais por
crime, representando uma conquista inovadora e radical” (p56-57).
CONCLUSÃO: Atuar contra
os desequilíbrios causados pelo avanço tecnológico acelerado e as mudanças
econômicas decorrentes são uma missão que requer a conscientização da sociedade
de que é possível melhorar esse quadro das desigualdades, através de uma luta
contínua em busca de um nivelamento mais equilibrado nas relações entre as potências
capitalistas e os países do terceiro mundo; acredito que nossas principais
armas estão no conhecimento e na compreensão dos prejuízos causados á
sociedade, investimento acadêmico para que outras sugestões e possibilidades
viáveis de transformações possam se divulgadas, a utilização dos meios
educacionais como fonte de informações e conhecimento dos planos políticos de
futuros governantes que iremos eleger.